segunda-feira, 15 de março de 2010

Análise Psicológica de Dona Baratinha


Por Wagner Vieira Cruz

O texto é marcado por vários fenômenos de cunho sócio-econômico, apesar de ter sido escrito em uma estrutura da Literatura Infantil, várias passagens são consideradas de projeção intelectual mais avançada, ele mostra vários vícios da sociedade como um todo. Este é um conto popular e, portanto, não se sabe ao certo sua verdadeira origem, existindo versões das mais variadas possíveis, uma vez que os contos chegaram ao Brasil somente no século XIX, sendo que o conto em tela, há quem diga pertencer ao compositor João de Braga – Braguinha (1907-2006), publicado em 1973.


O texto pode ser considerado infantil pela sua elaboração, fácil leitura e compreensão, a ausência de gírias e as palavras são formuladas de forma que a criança possa compreendê-lo, como exemplo, a entrevista ter sido formada apenas por uma única pergunta: “Quem quer se casar com Dona Baratinha que tem dinheiro na caixinha?” Se contextualizada aos demais contos, seria uma forma de pronunciar palavras mágicas como: “Jazan!” ou “pelos poderes de Grayskull!” do desenho He-man, entretanto, pelo ponto de vista freudiano, o conto tem um cunho psicológico riquíssimo e que o mesmo poderia ser observado de muitas vertentes, uma delas, é o fato da Dona Baratinha ser uma pessoa de cor (racismo na sociedade em que vivia) ou uma viúva ou mesmo uma senhora de idade avançada e que não conseguiu um pretendente.


Se analisarmos com maiores detalhes, percebemos que tal fato está atrelado ao meio social, que a história se desenvolve em uma época em que a mulher era para o casamento e que uma donzela que não tivesse um marido era tratada com desprezo perante a sociedade machista.


Em especial, a Dona Baratinha era uma pobre senhora que devido a sua baixa posição social não dispusera de nenhum pretendente, por isso aquela moeda que encontrara reavivou uma idéia esquecida por certo tempo, pois assim, aquele dinheiro servir-lhe-ia de trunfo para convencer os seus pretendentes a casar-se com ela.


O texto também possui símbolos camuflados, como a própria baratinha, representa a feminilidade, a fragilidade da mulher; a moeda representa o dote que a noiva paga ao seu pretendente, assim como o odor da barata seria a sedução da mulher, as respostas dos animais seriam uma forma de canto para o sexo e, como cada animal tem seu jeito peculiar de atrair a sua fêmea, a baratinha não ficou atraída por nenhum deles, o próprio estereotipo deles não eram atrativamente aceito por ela. Um fato que se leva em consideração é a mente da barata, ela nos possibilita dizer que é uma mulher sonhadora, delicada e de certa forma dengosa, fala sempre no diminutivo, em contra partida, ela se destaca pela sua esperteza, representada no conto pelas respostas rápidas a cada um dos pretendentes.


Por sua vez, ela tem características egocêntricas ao idealizar seu noivo, podendo se assemelhar com algum tipo de interesse, uma vez que ela exterioriza seu modelo de “homem”. Primeiro deseja um partido rico, talvez pela vidinha desregrada que possui, em seguida desiste sempre que seu inconsciente lhe mostra uma oposição ou medo como se fosse uma censura. Na passagem do texto fica bastante claro, ela primeiro quer um marido rico, depois bonito e encerra em bom, mas o que seria “bom”? Será que o seu “bom” não poderia ser a junção de todos os atributos antes questionados, ou seria “bom” como homem (cama) ou “bom” de coração?


Na busca pelo par perfeito, ela elabora um “concurso”. Sai à janela e entrevista todos os animais do sexo masculino que possa ouvi-la e quando não está sendo ouvida, grita mais forte, todavia, encontra defeito em todos. Mas, não encontra no ratinho, somente porque ele se enquadra no perfil de “macho” que ela idealiza desde inicio do conto, e a sutileza do pequeno animal, manifesta nela uma magia que facilmente a envolve. Uma coisa ela não percebeu, o ratinho era bastante ambicioso e tinha um vício desenfreado por comida, podemos até compará-lo a jovens que embora sua aparência venha encantar as mulheres, seus vícios venham torná-los incapazes de amá-las.


Um fato bastante curioso é que na narração todos os demais pretendentes tinham vozes de homens de idade enquanto que o ratinho era de um menino, mostrando que o estereotipo idealizado pela barata era o de homens mais jovens.


No texto mostra outro ponto que devemos considerar para traçar um perfil psicológico de Dona Baratinha, ela tem mais iniciativa de decisão que o ratinho, desde a hora das perguntas até a data do casamento foi dela a última palavra, enquanto que seu parceiro, mais jovem, não se importava com isso, talvez seu interesse fosse outro, poderia entender que a baratinha fosse uma mulher rica, pois, ela estava procurando um marido e dizendo que tinha dinheiro na caixinha, talvez ele pudesse tirar vantagem daquilo tudo, e assim ela poderia sustentar seu vício da gula por toda a vida. Podemos encontrar embasamento nesta afirmação pela maneira que ele a tratou, esquecendo ou supondo esquecer as luvas na casa da noiva e esperou todos saírem para ir buscá-las. Será que isso não foi premeditado? Será que o interesse do ratinho era outro? Antes de morrer ele ainda diz “E vou morrer! Mas morro comendo toucinho... Adeus baratinha dos meus sonhos!!!”.


Como todo conto deixa uma lição, este texto nos mostra várias lições que vai da luxuria da dona baratinha e sua repentina mudança em considerar-se rica apenas por ter encontrado uma moeda de ouro e assim “comprar” um marido, e se estende ao vício do ratinho em não resistir à comida chegando a ponto de trocar sua vida por um pouco de prazer. Segundo Freud, “o princípio do prazer é o desejo de gratificação imediata, tal desejo conduz o indivíduo a buscar o prazer e evitar a dor” no caso do ratinho, o seu prazer foi comer o toucinho, mesmo isso lhe causando a morte.


A narrativa termina com o eu poético, dividido em onisciente e onipresente, indagar que a Dona Baratinha depois de chorar e esquecer todo esse triste momento irá bater as assas e sair novamente à procura de outro marido, nos mostrando mais uma vez o que Freud defende, que o prazer é mais importante que o objeto do prazer, assim o prazer da baratinha não estava no ratinho e sim em um marido e o prazer do ratinho estava no toucinho e não na baratinha.




REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS



http://pt.wikipedia.org/wiki/Princ%C3%ADpio_de_prazer


http://www.coladaweb.com/literatura/contos-e-mini-contos


3 comentários:

  1. Quem tem medo da Dona Baratinha?

    Passando por aqui e prestigiando seu trabalho. Prossiga, socialize, filosofe!

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  2. Parabens, Pai !!
    ficou muito bom mesmo *-*

    [/Me mata de orgulho !!

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